Notas importantes para o setor...

01/06/2009 15:12

Amanhã é o Dia Mundial do Leite. E a comemoração vai ser certa nos laticínios. Primeiro, o setor não sentiu o forte impacto da crise financeira mundial. Segundo, há mais controle da entrada de produtos importados no país. Por fim, o Brasil está no caminho de se tornar um dos principais fornecedores de produtos lácteos para todo o mundo. É por esses motivos que o presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios de Minas Gerais (Silemg), Alessandro Rios, de 38 anos, está otimista. Para ele, como Minas Gerais é o maior estado produtor de leite do país, há grandes chances para aproveitar as oportunidades e ganhar, apesar do cenário de crise. “As pessoas deixam de trocar de carro, de casa e partem para prazeres mais cotidianos e acessíveis. Permitem-se comer um queijo mais gostoso.” 


A crise financeira mundial atingiu a indústria de laticínios? Como vê o cenário atual? 
O cenário atual é semelhante ao que existe em outros setores. Estamos em um período de crise e de grandes mudanças que têm trazido desafios e abrem oportunidades para empresas que conseguem se adequar na velocidade certa. Aqui em Minas, levantamento feito pelo Sebrae mostrou que há 1,1 mil pequenas indústrias. São muitas. E é hora de buscar ações conjuntas para potencializar o trabalho delas. Se fizermos isso bem-feito, poderemos ganhar com a crise, e não perder com ela. Há uma vertente de estudiosos indicando que no período de crise muito do prazer que as pessoas tinham antes com bens duráveis passam para a alimentação. As pessoas deixam de trocar de carro, de casa e partem para prazeres mais cotidianos e acessíveis. Permitem-se comer um queijo mais gostoso, por exemplo. A queda na renda é ruim. Mas a indústria se adequa, oferece bebidas lácteas de custo menor. As pessoas passam para produtos mais acessíveis, mas não param de consumir derivados de leite. A produção não deve crescer este ano, mas, nesse cenário, se não tivermos queda, será positivo. 

Mas o setor registrou queda nas vendas? 
Não. Os negócios da indústria de laticínios estão estáveis, o que é para ser comemorado. O que existe é sazonal. Há uma seca muito grande nos estados do Sul do país. E aqui estamos no período de entressafra. A oferta está reduzida, mas não notamos nenhum sinal até agora de que a crise tenha afetado o consumo de lácteos no Brasil. Não tivemos impacto até o momento. 

Só que os preços estão subindo… 
A alta nos preços é em função da baixa oferta, da produção reduzida. Não existe no Brasil um programa de estoque regulador para lácteos. Leite é um produto altamente perecível. A maioria dos produtos tem prazos curtos de validade. O leite produzido na safra, há quatro meses, tem sua maior parte consumida na época da produção. Agora, com frio e menos chuva, a pastagem piora, há menos oferta. Sem o estoque regulador para abastecer o mercado, os preços sobem. Se falta mercadoria, é certo o aumento de preço. Em maio, junho e julho os preços sobem para o produtor e para o consumidor. Novembro, dezembro e janeiro já são períodos com valores mais baixos também para produtor e consumidor. É uma questão estrutural do Brasil. Falta esse programa de estoque regulador. Com um projeto para compra do excedente na época da safra, daria para evitar que os preços caíssem muito no início do ano. 

Qual o preço do leite hoje? Ainda pode aumentar mais? 
O valor pago ao produtor este mês deve ficar entre R$ 0,65 e R$ 0,70 por litro. Mas devemos lembrar que, no Brasil, o valor do leite também sofre influência da qualidade do produto e do volume oferecido. De toda forma, esses preços devem continuar subindo até que a relação entre oferta e demanda volte a se equacionar. Junho ainda deve ter alta para o produtor, mas não mais para o consumidor. O preço do longa-vida deve se estabilizar perto do valor atual, de cerca de R$ 2. Já está em um pico. Não há expectativa de muita valorização. Mas há possibilidade de o preço melhorar um pouco mais para o produtor. Essa diferença entre o preço vendido para o consumidor e o pago para o produtor depende do produto. O leite em pó, por exemplo, está com preço defasado no mercado internacional. 

E o que causou essa crise do leite, que foi anterior à crise financeira internacional e levou ao protesto dos produtores em todo o país? 
O produtor passou por um período muito difícil porque antes dessa crise financeira houve uma superoferta de leite no mundo. Afetou produtores brasileiros e do mundo todo. Não foi algo isolado. Teve produtor de leite da França também fechando estrada e fazendo protesto. Há três anos teve aumento grande de preços ao produtor. Faltou leite no mundo e houve estímulo. A produção reagiu muito rapidamente. Ocorreu o contrário. Houve um excesso de oferta há dois anos que representou impacto no mercado até no início do ano. O preço internacional do leite em pó, que é o mais comercializado no mundo e ficava na média histórica de US$ 5 mil por tonelada, caiu a US$ 2 mil por tonelada. Agora está havendo uma readequação. 

Como vê o futuro do mercado? 
Leite é um produto básico e o Brasil é um dos países com maior potencial para atender o aumento do consumo mundial. Outros não têm muita área para crescer. Os Estados Unidos e a União Europeia são nossos maiores concorrentes. 

A queda do dólar é boa ou ruim para o setor? 

É ruim. O câmbio atrapalha porque facilita entrada de leite em pó importado, que muitas vezes é subsidiado no país de origem. Atrapalha o produtor e a indústria. Produtos vêm para o país a preços que não são reais. Ocorreu muito nos últimos meses de 2008 e no início deste ano. Foi um dos grandes problemas. Mas a pressão do setor resultou em medidas do governo para policiar e regulamentar o controle do volume que entra no Brasil. Desde o mês passado, qualquer importação de leite ou lácteo tem de ser aprovada pelas agências reguladoras do comércio internacional. 

 

Graziela Reis - Estado de Minas

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